Foto: Charles Guerra (Diário)
Dono deste supermercado no Bairro Itararé, assaltado em 2016 e 2017, notou a queda nos índices
A Brigada Militar (BM) divulgou os números da criminalidade em Santa Maria no primeiro semestre de 2018. Em comparação com o mesmo período de 2017, todos os sete índices monitorados pela corporação caíram. As ocorrências de arrombamento e de roubo a estabelecimento comercial foram os crimes que tiveram a menor redução, com 18% e 21% de queda, respectivamente. O índice com maior queda foi roubo de veículos, 70% menor no primeiro semestre deste ano. No mesmo período de 2017, foram registrados 30 casos, e neste ano, nove.
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A Brigada Militar atribui a queda dos números ao trabalho focado no mapeamento dos pontos mais violentos de Santa Maria. O panorama é apontado pelo Sistema Avante, um software implantado em 2015 pela corporação para apontar onde e em que momento os crimes ocorrem em cada cidade.
Dos delitos monitorados, quatro são definidos pelo Comando Estadual da Brigada Militar e três pelo 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) da BM, com sede em Santa Maria. Esses últimos são selecionados de acordo com os crimes que são mais comuns à realidade local. São eles: arrombamento, abigeato e roubo a transporte público. Registros de roubo de veículo, por exemplo, foram considerados poucos neste ano, porque não é um crime característico da cidade.
- Não temos grandes redes de desmanche que propiciem o comércio ilegal de peças, que é comum em cidades como Alvorada, por exemplo. Não podemos trabalhar com sequestro, que é um crime comum em Porto Alegre, mas que não é característico do local. Se tenho zero, quando der um, o aumento é de 100%. Hoje, o sistema nos dá uma referência boa. A gente consegue ver o ponto de calor das ocorrências. O roubo a pedestre é na área central, não só no Centro, mas nos bairros que circundam o Centro. Por isso, damos atenção específica ali - explica o tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues, comandante do 1º RPMon.
REDUÇÃO SENTIDA
A queda nos índices foi sentida pelo empresário Felipe Scalcon, dono do Supermercado Scalcon, localizado na Rua Marechal Deodoro, Bairro Itararé. O estabelecimento dele foi alvo de assaltantes em 2016 e 2017. Em ambos os casos, os roubos foram à mão armada. No primeiro, três homens com capuz renderam funcionários, levaram dinheiro do caixa e fugiram a pé. No segundo assalto, dois bandidos entraram no estabelecimento por volta do meio-dia. Havia pelo menos oito clientes e funcionários no local. Os homens levaram o celular de um funcionário e dinheiro de um cliente e do caixa. Um terceiro homem aguardava os bandidos numa rua próxima em um carro que ajudaria na fuga. Em nenhuma das oportunidades, os autores foram presos em flagrante.
Após os ataques, Felipe Scalcon decidiu implantar câmeras de segurança e alarme. A atenção de quem trabalha lá também dobrou.
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- A gente baixa o portão quando anoitece, fica mais atento, mas noto que está bem melhor. Tem mais policiamento, a gente vê a viatura passando aqui na frente - relata o empresário.
Sem câmeras, ações preventivas são prejudicadas
Embora as ações envolvendo inteligência tenham impulsionado resultados melhores, a falta de câmeras de monitoramento dificulta o trabalho da prevenção, reclama o tenente-coronel. Os casos dos assaltos ocorridos no Supermercado Scalcon e de outros roubos pela cidade poderiam ter sido elucidados se houvesse câmeras de videomonitoramento. Para o comandante do 1ª RPMon, cidades de médio e grande porte precisam da tecnologia.
As imagens das câmeras que hoje funcionam em Santa Maria não têm boa definição e só são transmitidas para a Central de Monitoramento da Guarda Municipal. A manutenção do equipamento também não está sendo feita porque o contrato com a empresa responsável acabou no final de junho.
CÂMERAS NA CIDADE
De acordo com o chefe da Casa Civil, Guilherme Cortez, a prefeitura está finalizando o termo de referência (o documento que origina um edital) para, em cerca de 15 dias, abrir um processo licitatório para a compra de câmeras novas. O certame prevê a compra de 700 câmeras instaladas dentro da cidade e de aproximadamente 30 câmeras com a tecnologia OCR - que leem placas de veículos e, automaticamente, disparam um aviso à central quando detectam carros roubados ou até com o IPVA vencido - nos pontos de entrada do município. O novo contrato também prevê a distribuição das imagens para os órgãos de segurança.
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Para especialista, ocorrências não retratam a realidade
Para o doutor e mestre em Sociologia Marcos Rolim, que também é presidente do Instituto Cidade Segura, em Porto Alegre, é preciso ter cuidado ao medir a criminalidade por meio dos registros de ocorrência. Segundo ele, os relatórios medem a reação das pessoas, e não o número real de crimes. Isto é, se a população tende a ter mais confiança na polícia, vai registrar mais as ocorrências.
REGISTRO OBRIGATÓRIO
O mesmo não vale para os homicídios, cujo registro é feito obrigatoriamente pela necessidade de abertura de um inquérito e controle pelo Ministério da Saúde. Do ponto de vista científico, pesquisas de vitimização - com pessoas que realmente foram vítimas de crimes - são o melhor método para medir a violência.
- A estratégia de policiamento de "hot spots" (pontos de calor) é, de qualquer maneira, muito efetiva na prevenção de alguns delitos, coisa que a criminologia contemporânea vem apontando há pelo menos 30 anos - acrescenta Rolim.